Por Cristiano dos Anjos*.
Há pelo menos duas décadas, vivemos a evolução digital. E se você está se perguntando por que chamo toda essa transformação de evolução, eu explico. Por mais que Internet das Coisas ou Internet of Things (IoT) seja um termo da atualidade, vale lembrar que o avanço do digital – cada vez mais presente em todos os setores da sociedade – começou no fim da década de 1990, período no qual surgiu a grande rede de computadores, que, com o advento das mídias sociais e aplicativos de conversação, tornou-se uma rede de pessoas.
Quase 10 anos depois, em 2009, outro acontecimento foi fundamental para chegarmos ao cenário que temos atualmente – a inserção do GPS (Global Positioning System) nos dispositivos. A partir desse fato, a rede passou a ser mais do que de pessoas; tornou-se de coisas. E com a conexão e troca de informações, ela evoluiu, resultando no que conhecemos como IoT. Todo esse ciclo possibilitou não só um avanço social, mas também fabril – culminando, então, na Indústria 4.0.
Também conhecida como 4ª Revolução Industrial, Manufatura Avançada ou IIoT (Industrial Internet of Things), essa nova forma de produção define-se diante de um único conceito: a digitalização dos processos industriais, que permite a comunicação entre máquinas e inteligência, resultando em análises precisas e aumento da eficiência para toda a cadeia de produção e sustentabilidade do negócio. Sua estrutura é composta por tecnologias que envolvem a conexão entre maquinário, no chão de fábrica, e processos fabris, interligando-os a sensores, hardwares de controle e softwares.
Desafio local
O modelo ganhou força global de 2010 em diante, mas, no Brasil, pode-se dizer que ainda é algo recente. Tem aproximadamente cinco anos que a IIoT vem sendo estudada e aplicada por aqui. As indústrias de base, como petróleo, celulose e química, são pioneiras e utilizam esse tipo de tecnologia há algum tempo. Prova disso é uma recente pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) que revelou, entre 2016 e 2018, um aumento significativo do número de fábricas que aderiram ao uso de tecnologias digitais, consideradas pertencentes à IIoT, passando de 63% para 73% em grandes companhias – enquanto pequenas e médias empresas permanecem distantes dessa realidade.
Para vencer esse desafio e abrir o mercado, de modo que todos possam entrar na Indústria 4.0, é preciso trabalhar com uma agenda única, que atenda e oriente desde o pequeno empresário até os grandes conglomerados fabris. Além disso, é necessário entender o quanto estar inserido nesse contexto é garantia de continuidade e de sobrevivência de um negócio.
Quem ainda não aderiu à Indústria 4.0 precisa se planejar. A estratégia funciona mais ou menos como um mapa. Costumo dar o exemplo do aplicativo de rotas. Estabeleço onde estou e aonde quero chegar. Mas, às vezes, o trajeto muda no meio do caminho para que se possa obter o melhor resultado. Conforme as empresas forem estudando o que já têm hoje e fazendo seu plano de investimento, terão uma resposta lá na frente. E ao contrário do que muitos imaginam, não é preciso um grande investimento logo de início para ser digital. Você pode começar com modernizações da infraestrutura, até ter o aporte necessário para um próximo passo.
Schneider Electric e a IIoT
Com mais de 180 anos de existência (71 deles só no Brasil), a Schneider Electric, líder global na transformação digital em gestão da energia elétrica e automação, está mais do que pronta para contribuir com o avanço da Indústria 4.0 no país. Como uma das pioneiras na adesão ao digital, fomos os criadores do PLC (controlador lógico programável) e temos inovação de forma sustentável como parte do nosso core business e de todas nossas outras iniciativas. Permitir que nossos clientes, dessa forma, façam parte da IIoT é nosso papel.
Pensando nisso, a grande aposta da Schneider para a Manufatura Avançada é o EcoStruxure – plataforma aberta, confiável e pronta para IoT que reflete bem o entendimento da empresa em relação às exigências atuais do mercado. Essa tecnologia atende à necessidade de automação e conectividade entre as máquinas e os dispositivos móveis, permitindo o acesso remoto, otimizando o desempenho e aumentando a eficiência da operação, a melhor gestão de processos e a agilidade na tomada de decisões. Seu uso permite produzir mais com menos e otimizar recursos, fortalecendo os negócios dos nossos clientes e parceiros e reforçando sua atuação de forma sustentável.
Exemplos locais
Nós acreditamos na Indústria 4.0, e, no Brasil, há muito espaço para seu crescimento. Trabalhos que já realizamos com alguns clientes e parceiros, localmente, são exemplos que reforçam essa convicção. Por meio das soluções EcoStruxure Hybrid DCS (sistema de automação único para engenharia e operação da planta), Wonderware InBatch (para construção e controle de processos produtivos em lotes ou bateladas) e Wonderware Historian (para construção e visualização dos relatórios de produção, com dados históricos), contribuímos para que uma das principais empresas de cosméticos do país aderisse à automação industrial. Hoje, o complexo fabril trabalha com um sistema integrado e, por conta da padronização, tem facilidade, agilidade e flexibilidade para incluir novos equipamentos, em caso de futuras expansões, e para detectar possíveis falhas, garantindo a rastreabilidade de alterações.
Já para uma rede de distribuição de energia, oferecemos, dentro da plataforma EcoStruxure Grid, a solução self-healing, que isola o trecho com problema, reconectando-o a outro circuito (é como se a rede se curasse sozinha; daí o termo “self-healing”). Por meio da IoT, os equipamentos se comunicam com a central e coletam dados sobre o comportamento dos disjuntores de saída dos alimentadores das subestações. Assim, o tempo de atuação para reparo de rede fica cada vez menor. A inovação viabiliza tomadas de decisão mais rápidas e eficientes, o que contribui com os indicadores de qualidade atribuídos pela Aneel (DEC/FEC).
E no setor de tecnologia da informação, fornecemos para um grande data center de uma empresa do setor de alimentos e bebidas um software de monitoramento, que garante a proteção de equipamentos de TI críticos contra ameaças físicas, riscos ambientais (temperatura) ou erros humanos que possam prejudicar ou interromper as operações. O sistema funciona remotamente, com alertas proativos e sensores que conseguem captar desde presença não autorizada no local do maquinário, até umidade, entre outros aspectos. Assim, o cliente passou a ter menor tempo de parada e maior visibilidade da operação, entendendo em quais ações é possível potencializar o desempenho da infraestrutura.
Além disso, na década de 70, fomos os responsáveis pela instalação do primeiro PLC em uma das maiores mineradoras do país e mais adiante, na década de 90, fomos nós que implementamos o primeiro CCM (quadro de comando) inteligente em ethernet no mercado nacional.
Sustentabilidade
Seja no Brasil ou em qualquer lugar do mundo, nosso portfólio de soluções para a Indústria 4.0 permite aos nossos clientes endereçar os desafios de eficiência, competitividade, produtividade e segurança, posicionando-os em um ambiente de negócios sustentável e de baixo carbono. E no contexto de Manufatura Avançada, o ser sustentável importa tanto quanto o ser digital – isso porque, com o avanço da IoT, esbarramos em um dilema energético. Segundo a consultoria Gartner, até 2020, o número de dispositivos conectados em todo o mundo chegará a 20,4 bilhões. E quanto mais coisas conectadas, maior é o consumo de energia, resultando em uma maior emissão de carbono.
Pensando nisso, a Schneider Electric cria soluções para um problema real. Temos o plano: 40 anos, x1,5 consumo de energia, ÷2 emissões de CO2, x3 eficiência. Ou seja, nos próximos 40 anos, o consumo de energia crescerá drasticamente, mas é crucial reduzir pela metade as emissões de gases do efeito estufa. Caso contrário, será impossível manter o aquecimento global abaixo de 2ºC e gerir a poluição em um nível suportável. Para dar conta de um futuro que se vislumbra extremamente agressivo, temos que diminuir nossa intensidade de carbono e melhorar nossa eficiência em três vezes. Eficiência é palavra-chave para as empresas, para as pessoas, para o planeta. Na Schneider, a plataforma EcoStruxure é a expressão máxima desse propósito.
*Cristiano dos Anjos é vice-presidente de Indústria da Schneider Electric Brasil e membro do Comitê Executivo da empresa desde 2016. Com 23 anos de experiência atuando em diversos segmentos do setor, o profissional tem contribuído com a automação e digitalização das indústrias, suportando um crescimento eficiente e sustentável. Graduado em Engenharia, o VP ainda conta com pós-graduação pela Unicamp, MBA em Gestão Empresarial pela FGV e MBA em Negócios Internacionais pela HEC – Liège. O executivo integra o Conselho Superior de Inovação e Competitividade (Conic) e atua como mentor de startups e scale-ups. Ao longo da sua trajetória, dos Anjos atuou em países da América do Sul, da Europa e do Oriente Médio.