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Estudos recentes afirmam que não existe reação entre o uso de ibuprofeno e agravamento da infecção por COVID-19

Carta publicada pela revista científica The Lancet foi contestada por diversos estudos e órgãos internacionais.

São Paulo, junho de 2020 – Estudo recente publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA)¹,2 com cerca de 18.472 pacientes testados para Covid-19 no Sistema de Saúde Cleveland Clinic em Ohio e na Flórida, apontou que, entre os pacientes com resultados positivos para SARS-CoV-2, aproximadamente 9,4% do total, apenas 116 (correspondentes a 6,7% do total) estavam em uso de inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) e 98 (ou 5,6%) em uso de bloqueadores de receptores de angiotensina II (BRA). Pela análise estatística, este estudo conclui que não existe associação entre o uso de medicamentos IECA ou BRA e a positividade do teste COVID-19, e portanto recomenda que se continue utilizando esses medicamentos nos casos de COVID-19.

Assim, os autores negam as especulações anteriores levantadas em publicação da revista The Lancet, em março deste ano. A principal preocupação era que a ação dos AINEs, IECA, BRA, e ibuprofeno, pudesse aumentar os níveis da enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2), co-receptor para a entrada de SARS-CoV-2 nas células, o que resultaria em um potencial aumento no risco de contrair a doença ou seu agravamento.

A Dra. Denise Katz, gerente médica da Mantecorp Farmasa, explica que os dados da recente pesquisa do JAMA, realizada entre 8 de março de 2020 e 12 de abril de 2020, são fundamentais para embasar as decisões da classe médica nesses períodos. “Após as especulações iniciais, muito estudos clínicos, instituições científicas e órgãos sanitários internacionais foram conduzidos para apoiar a sociedade médica durante a pandemia. Ainda está sendo estudado o comportamento do SARS-CoV-2, mas já é possível retornar à indicação habitual do ibuprofeno para pacientes com dores e febres”, explica.

Outras pesquisas

O American Therapeutics Journal3 publicou um artigo informando que além de não existir eviências suficientes para colocar em dúvida a utilização de ibuprofeno durante a pandemia de Covid-19, dados disponíveis de alguns estudos limitados mostram que a administação de ACE21* recombinante pode melhorar lesões em vias respiratórias e danos pulmonares causados por infecção viral4, sugerindo a possibilidade de que o aumento de ECA2, incluindo a molécula de ibuprofeno, possa ser benéfica em pacientes com lesão pulmonar viral.

Já um artigo publicado no The Journal of Headache and Pain5 explica que as especulações iniciais foram feitas sem o fornecimento das evidências, com uma “base excepcionalmente fraca para tirar uma conclusão abrangente sobre o uso de ibuprofeno em pacientes com dor de cabeça durante a pandemia de Covid-19”.

Após muitos questionamentos da mídia, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA)6 também se posicionou alertando a população que não há razão para que pacientes que tomam AINEs para doenças crônicas parem de tomá-los. Segundo documento emitido pela instituição não há evidências científicas que estabeleçam uma ligação entre ibuprofeno e a piora da Covid-19, ressaltando ainda que pacientes e profissionais de saúde devem levar em consideração as informações de cada produto, sempre esclarecendo dúvidas com seus médicos e farmacêuticos.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) também consultou diversos médicos que tratam de pacientes de COVID-19, não tendo entre os profissionais relatos negativos do uso de ibuprofeno, além dos efeitos colaterais que limitam o uso em determinadas pessoas7

Referências

¹- Mehta N, Kalra A, Nowacki AS, et al. Association of Use of Angiotensin-Converting Enzyme Inhibitors and Angiotensin II Receptor Blockers With Testing Positive for Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) [published online ahead of print, 2020 May 5]. JAMA Cardiol. 2020;e201855. Disponível em: <https://jamanetwork.com/journals/jamacardiology/fullarticle/2765695>. Acesso em: junho, 2020.

2 Schultz JN, Trachtenberg B, Estep J, et al. Association of Use of Angiotensin-Converting Enzyme Inhibitors or Angiotensin II Receptor Blockers on LVAD Support and Risk of Gastrointestinal Bleeding: A Multi-Center Analysis. J Heart Lung Transplant. 2020;39(4S):S28.

3- Sridharan GK, Kotagiri R, Chandiramani VH, et al. COVID-19 and Avoiding Ibuprofen. How Good Is the Evidence? [published online ahead of print, 2020 Apr 27]. Am J Ther. 2020;10.1097/MJT.0000000000001196.Disponível em: <https://journals.lww.com/americantherapeutics/Abstract/9000/COVID_19_and_Avoiding_Ibuprofen__How_Good_Is_the.98281.aspx>. Acesso em: junho, 2020.

4- Khan A, Benthin C, Zeno B, et al. A pilot clinical trial of recombinant human angiotensin-converting enzyme 2 in acute respiratory distress syndrome. Crit Care. 2017;21(1):234.

5–  MaassenVanDenBrink A, de Vries T, Danser AHJ. Headache medication and the COVID-19 pandemic. J Headache Pain. 2020;21(1):38. Disponível em: <https://thejournalofheadacheandpain.biomedcentral.com/articles/10.1186/s10194-020-01106-5>. Acesso em: junho, 2020.

6-European Medicines Agency. EMA gives advice on the use of non-steroidal anti-inflammatories for COVID-19. 18 março, 2020. Disponível em: <https://www.ema.europa.eu/en/news/ema-gives-advice-use-non-steroidal-anti-inflammatories-covid-19> . Acesso em: junho, 2020.

7-. World Health Organization. Could #ibuprofen worsen disease for people with #COVID19? 18, março. 2020. Twitter: @WHO. Disponível em: <https://twitter.com/WHO/status/1240409217997189128>. Acesso em: junho, 2020.

*co-receptor para a entrada de SARS-CoV-2 nas células

 

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