sexta-feira , 26 abril 2024
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Vacinação além da seringa: a importância da refrigeração para conservação dos imunizantes

Por Ivão Romão*

Em janeiro deste ano começou no Brasil a vacinação contra a covid-19. Para que esse fato se concretizasse, diversas medidas foram tomadas, entre elas o cuidado com a refrigeração e o armazenamento dos frascos de vacina, iniciando uma nova batalha.

Houve alguns casos de perda do imunizante por problemas com a temperatura. Em São Paulo (SP), após uma forte chuva, ocorreram falhas no fornecimento de energia elétrica, e consequentemente os aparelhos de refrigeração deixaram de funcionar, comprometendo 112 vacinas. Em outro caso, em Vila Velha (ES), um problema mecânico no equipamento afetou mais de 500 ampolas.

Diante disso, passou-se a dar atenção para assuntos relativos ao acondicionamento de vacinas – prática que sempre existiu, porém, não era destacada. A refrigeração de imunizantes tem por objetivo manter as características imunobiológicas, então a má conservação por temperatura pode comprometer sua composição, por exemplo:

  • Medicamentos termolábeis: derivam de ativos biológicos e normalmente exigem temperaturas de armazenagem entre 2 ºC e 8 ºC, por isso não devem sofrer alterações durante toda a cadeia do frio. Caso isso ocorra, há um risco de inativar as substâncias e, consequentemente, elas deixarem de produzir efeitos.
  • Medicamentos termoestáveis, fabricados a partir de substâncias que podem se manter ativas na temperatura ambiente. Portanto, permanecem eficazes durante determinado período fora de refrigeração ou, até mesmo, dispensam totalmente a conservação refrigerada.

Para assegurar o efeito das vacinas termolábeis é necessário manter a temperatura recomendada em ambiente refrigerado, seja ele de +5 ºC, -20 ºC ou mesmo -70 ºC, ao longo da Rede de Frio. Para essas temperaturas não é recomendado o uso de equipamentos domésticos, como geladeiras (de +2 ºC a +8 ºC) e congeladores de -25 ºC a -15 ºC, mas sim utilizar equipamentos comerciais/industriais que operam nestas mesmas faixas. Deve-se acrescentar equipamentos de refrigeração de ultrabaixa temperatura na faixa de -70 ºC a -80 ºC, para a vacina da Pfizer – que seria um desafio, mas a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou novas condições de conservação e armazenamento do imunizante, passando a ser mantido em temperatura controlada entre 2ºC e 8ºC por até 31 dias. A orientação anterior era de cinco dias.

A questão da refrigeração é importante, assim como as diferentes etapas de armazenagem, transporte, distribuição e consumo da cadeia do frio, porque os medicamentos termolábeis exigem cuidado redobrado com o monitoramento da temperatura ao longo de todo o processo. Deve-se seguir uma série de normas e regras de boas práticas para garantir a integridade física e as características farmacológicas desses produtos, mantendo sua eficácia. Para o transporte da vacina Pfizer, por exemplo, são empregadas caixas térmicas com temperatura controlada especialmente projetadas, utilizando gelo seco e isolamento térmico para manter as condições recomendadas de temperatura de armazenamento de -70 °C ± 10 °C por até 10 dias sem abrir.

Para se ter certeza de que a vacina foi mantida nas condições de temperatura de sua armazenagem, é necessário o uso de um registrador de temperatura, desde a sua fabricação, armazenagem, transporte e distribuição final.

O controle da umidade no ambiente onde os congeladores de ultrabaixa temperatura estão localizados também é importante para reduzir a carga de refrigeração devido ao acúmulo de gelo sobre as aletas. É recomendado um ponto de orvalho de +5 ºC, que corresponde a uma umidade absoluta de 0,0055 kg de vapor/kg de ar seco.

Se é das crises que surgem as oportunidades, para as empresas de refrigeradores este é um momento que está criando movimentação no mercado. Uma fábrica de refrigeradores de vacinas em Piracicaba (SP) dobrou sua produção nos últimos meses e não foi suficiente para atender a demanda. Isso impactou inclusive o quadro de funcionários, que também cresceu. Outra companhia, já do ramo de refrigeradores e freezers, aproveitou sua estrutura e lançou sua própria linha de refrigeradores para armazenar vacinas, uma vez que desde 2019 não é mais permitido armazenar imunizantes em geladeiras comuns.

O processo de vacinação é mais complexo do que se imagina, pois não bastam os insumos e imunizantes, é necessário todo um cuidado desde a produção, o armazenamento, o transporte e a conservação. E, claro, paciência para aguardar chegar sua vez.

*Ivão Romão, Gerente da Febrava, e Oswaldo Bueno, consultor técnico da ABRAVA e Gestor do CB 55 da ABNT  – . [email protected]

Sobre a Febrava

A Febrava é a principal feira da cadeia AVAC-R (aquecimento, ventilação, ar condicionado e refrigeração), tratamento da água, ferramentas e EPIs, da América Latina, e terceira mais relevante do mundo. O evento acontece a cada dois anos e traz as principais novidades e tendências do setor. Além do evento físico, a feira disponibiliza soluções digitais para que técnicos, instaladores, varejistas, distribuidores, engenheiros, projetistas e demais profissionais desse setor, mantenham-se atualizados o ano inteiro. A Febrava é realizada pela RX, principal organizadora e promotora de eventos do mundo.

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