Os dados são do Censo 2017 da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) sobre o cenário do tratamento de diálise no país. De acordo com a pesquisa feita com informações de uma amostra de 291 unidades de Terapia Renal Substitutiva (TRS), o total atual estimado de pacientes em tratamento dialítico é de 126.583.
De acordo com a presidente da SBN, Carmen Tzanno, a cada ano entram em programa em média 35 mil pacientes novos, cerca de seis mil são transplantados, mas clínicas cadastradas para o tratamento não conseguem atender a demanda. “Infelizmente, a taxa de mortalidade é elevada e se mantém constante, nessa população devido à concomitância de complicações cardiovasculares”, explica.
Atualmente, a SBN tem cerca de 840 clínicas de diálise cadastradas, sendo 758 clínicas ativas com programa de terapia renal substitutiva crônico, contra 747 em 2016.
A fila de espera para transplante teve alta de 29.268 pacientes (2016), para os atuais 31.266. A estimativa nacional da taxa de prevalência e de incidência de insuficiência renal crônica em diálise foi de 610 pacientes por milhão da população (pmp) e 193 pmp, respectivamente.
Entretanto, observam-se importantes diferenças regionais e a taxa de prevalência ainda é menor do que a preconizada pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) para a região de 700 pmp.
A incidência de pacientes com nefropatia diabética vem aumentando ao longo dos últimos anos. Quase um terço dos pacientes são idosos, comenta a presidente da SBN, com uma tendência a aumento de pacientes nessa faixa etária, principalmente no Sul e Sudeste.
“Temos um quadro difícil de vagas em todo o país para o tratamento do doente renal, pois mais de 80% dos pacientes dependem do SUS. O número de vagas nas clínicas vem se mantendo constante frente à demanda crescente. Somente 7% dos municípios brasileiros têm clínicas de nefrologia. Mais de 65% dos especialistas e a maioria dos serviços se concentram na região Sudeste” explica Dra. Carmen.
Nos últimos dois anos, após abertura do mercado da saúde para o capital estrangeiro cerca de 10% das clínicas privadas passaram às mãos de empresas multinacionais ou fundos de investimento. Nos Estados Unidos cerca de 80% das clínicas pertencem a estes grupos, assim como mais da metade na Europa. “Existe uma tendência de que o mesmo ocorra no Brasil, passando dos médicos especialistas para grandes conglomerados. Estas mudanças impactam o cenário da TRS no país e trarão grandes mudanças na assistência e na remuneração dos procedimentos”, afirma a presidente da SBN
Censo
Desde 2000, a Sociedade Brasileira de Nefrologia coleta anualmente dados referentes aos pacientes com insuficiência renal crônica em tratamento dialítico. Com abrangência nacional, o Censo de Diálise compila informações exclusivas fornecidas pelas Unidades de Terapia Renal cadastradas, servindo de base inclusive para as instituições governamentais. A cada ano, um comitê designado realiza a revisão e o aperfeiçoamento da pesquisa, que tem sido imprescindível para direcionar o planejamento de assistência a essa parcela da população. O estudo, feito com a colaboração voluntária dos centros de diálise em todo o território nacional, é importante ferramenta para a discussão e intermediação da Sociedade com as fontes pagadoras, indústrias e o próprio governo, para delineamento da política da terapia renal no país.
“Só conseguimos conhecer mais de perto a realidade do tratamento dialítico do país, graças à colaboração dos responsáveis pelos Centros de Diálise que nos enviam os dados periodicamente. Assim temos base para pleitear o aperfeiçoamento do atendimento no país”, explica Carmen Tzanno.