quarta-feira , 24 abril 2024
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Pandemia aumenta negligência em relação à leishmaniose

Doença que atinge humanos e animais precisa de cuidados e ações preventivas constantes

Considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das mais perigosas doenças tropicais, a leishmaniose, assim como outras enfermidades, tem sido negligenciada por parte da população com a atual pandemia de coronavírus. No entanto, é preciso manter atenção com os perigos da zoonose que acomete tanto seres humanos quanto animais.

“Não podemos esquecer que, apesar de estarmos passando por uma pandemia de Covid, as outras doenças continuam acontecendo e merecem toda a atenção da população”, destaca a médica-veterinária Adriana Maria Lopes Vieira, presidente da Comissão Técnica de Saúde Pública do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CTSP/CRMV-SP).

No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, ocorrem em média 3,5 mil casos por ano em humanos, com um índice de mortalidade que passou de 3%, em 2002, para 7,1%, em 2012. Como atinge órgãos com grande concentração de células de defesa do organismo, como medula óssea, fígado, baço e linfonodos, é fatal em até 90% dos casos.

O próprio Ministério da Saúde considerava uma doença negligenciada antes mesmo do Covid-19, já que os cuidados preventivos são básicos, o que não impede a grande incidência de casos. “Especialmente nas regioes endêmicas, com alto índice de transmissão, as pessoas têm que seguir com os cuidados e orientações das autoridades de saúde”, afirma Adriana.

Transmissão – A transmissão da Leishmaniose Visceral não ocorre pelo contato direto entre os animais domésticos e o ser humano. Para que aconteça a contaminação, é necessário que o mosquito-palha (flebótomo Lutzomyia spp) pique um animal infectado e em seguida uma pessoa, transmitindo a ela o protozoário causador da doença.

“A transmissão ocorre após a picada de vetores flebotomíneos (mosquitos), principalmente pelas fêmeas. Com maior incidência no final da tarde ou à noite”, explica a médica-veterinária Luciana Hardt Gomes, que também integra a CTSP/CRMV-SP.

Sintomas – Apesar de acometer animais e humanos, os sintomas podem ser distintos. Nas pessoas, o sistema imunológico é bastante afetado, causando insuficiência renal crônica, emagrecimento, atrofia muscular, diarréia, aumento de volume abdominal, febre intermitente, perda de apetite, fraqueza, anemia, palidez, alterações respiratórias, dentre outros.

Já os animais contaminados costumam apresentar queda de pelos, descamação cutânea e presença de feridas que não cicatrizam (úlceras) localizadas ou difusas, além de letargia e emagrecimento. “É importante observar qualquer mudança no comportamento do animal e se ele apresentar algum sintoma, levar para um profissional avaliar”, destaca Adriana Vieira.

Tratamento– Mesmo sendo considerada grave, a leishmaniose tem tratamento para humanos. No entanto, os medicamentos não eliminam o parasito em pessoas, assim como nos cães. Em 2017, o MilteforanTM foi o primeiro medicamento para tratamento da Leishmaniose Visceral Canina aprovado pelos ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e da Saúde.

No entanto, periodicamente o animal em tratamento deverá retornar ao médico-veterinário para uma reavaliação clínica, laboratorial e parasitológica e, se necessário, um novo ciclo de tratamento deverá ser indicado, lembrando que também devem ser mantidas, obrigatoriamente, as demais medidas preventivas.

“A própria bula do MilteforanTM informa que não existe cura parasitológica estéril para a Leishmaniose Visceral Canina e que o declínio da carga parasitária reduzirá o potencial de infecção dos flebotomíneos e, consequentemente, a transmissibilidade da doença. Portanto, apesar de reduzido, o risco de transmissão da doença existe. Assim, é necessário extremo comprometimento do tutor quanto ao cumprimento de todas as medidas preventivas”, acrescenta o médico-veterinário Leonardo Burlini, coordenador técnico do CRMV-SP.

Prevenção – A prevenção ainda é a melhor forma de combater a proliferação da leishmaniose, especialmente sobre a ótica da Saúde Única, que engloba a saúde animal, saúde humana e saúde ambiental. “O médico-veterinário pode participar diretamente na prevenção, vigilância e controle de doenças relacionadas à saúde pública”, enfatiza Luciana Hardt Gomes.

A médica-veterinária destaca a importância dos cuidados com os animais, bem como da manutenção da limpeza dos ambientes. “A prevenção passa pela guarda responsável, com uma nutrição adequada, além de medidas específicas para evitar a proliferação do vetor, mantendo o ambiente limpo, sem acúmulo de lixo e matéria orgânica”, complementa.

Veja outros cuidados recomendados pelo CRMV-SP para a prevenção da leishmaniose:

1 – Coleiras repelentes são eficientes para não-contaminação pela zoonose. A deltametrina é o elemento químico recomendado pela Organização Mundial da Saúde para impedir o contato dos animais com o mosquito transmissor.

2 – Barreiras físicas, como o revestimento de janelas e portas de canis ou viveiros com redes e telas, também são efetivas na prevenção. Como o inseto se alimenta no período noturno, em regiões quentes e com incidência de leishmaniose é recomendável manter os animais abrigados após o fim de tarde.

3 – Limpeza e higiene são as melhores medidas de prevenção contra a leishmaniose. Como o mosquito-palha se reproduz em locais com matéria orgânica, é preciso manter quintais limpos e evitar o acúmulo de lixo e água parada.

4 – Inseticidas podem ser aplicados nas paredes de domicílios e abrigos de animais. No entanto, a indicação é apenas para as áreas com elevado número de casos ou em surto de leishmaniose visceral.

5 – Exames periódicos e consultas regulares ao médico-veterinário podem identificar a doença com maior agilidade.

Semana Nacional de Controle e Combate à Leishmaniose

A Semana Nacional de Controle e Combate à Leishmaniose foi instituída pela Lei nº 12.604, de 3 de abril de 2012, como uma comemoração anual, realizada sempre na semana do dia 10 de agosto. Tem por objetivo estimular ações educativas e preventivas, bem como promover debates sobre as políticas públicas de vigilância e controle da doença. A iniciativa também visa a apoiar atividades da sociedade civil e difundir os avanços técnico-científicos relacionados à prevenção e ao combate à leishmaniose.

Sobre o CRMV-SP

O CRMV-SP tem como missão promover a Medicina Veterinária e a Zootecnia, por meio da orientação, normatização e fiscalização do exercício profissional em prol da saúde pública, animal e ambiental, zelando pela ética. É o órgão de fiscalização do exercício profissional dos médicos-veterinários e zootecnistas do estado de São Paulo, com mais de 39 mil profissionais ativos. Além disso, assessora os governos da União, estados e municípios nos assuntos relacionados com as profissões por ele representadas.

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