quinta-feira , 18 abril 2024
Capa » Medicina » Jovem cientista é premiada por pesquisa de fármaco contra tuberculose resistente

Jovem cientista é premiada por pesquisa de fármaco contra tuberculose resistente

Vanessa do Nascimento é titular no Departamento de Química Orgânica da Universidade Federal Fluminense (UFF) há quase quatro anos. Aos 33 anos – dos quais 11 dedicados à graduação, ao mestrado e ao doutorado –, a docente implementou, a partir de 2016, uma linha de pesquisa nova estratégica para a ciência no Brasil e que já tem dado resultados no Laboratório SupraSelen, no Instituto de Química da UFF.

A pesquisa virou destaque internacional, recentemente, ao receber o prêmio PeerJ Award, no 8º Workshop da Rede Científica Internacional Selênio Enxofre e Catálise Redox (WSeS-8), ocorrido em junho deste ano na Itália.

Mas o que exatamente ela e sua equipe conseguiram? Por que o trabalho chamou a atenção da comunidade científica internacional? Resumidamente, em termos populares, os professores e alunos, coordenados por Vanessa no SupraSelen, obtiveram eficácia no teste de moléculas derivadas da vitamina K contendo selênio no combate à tuberculose. Hoje, grande parte dos medicamentos para o tratamento da doença é produzido a partir de antibióticos já existentes, pois a bactéria já é resistente aos remédios disponíveis no mercado.”
“A equipe do laboratório é formada por outros dois professores do Departamento de Química, Marcela Cristina de Moraes e Fernando de Carvalho da Silva, e um do Departamento de Tecnologia Farmacêutica, Vitor Francisco Ferreira, além de alunos, sob coordenação de Vanessa.

“Obtivemos nove substâncias derivadas da vitamina K. Três dessas nove moléculas se mostraram efetivas. Mais ainda que o fármaco utilizado contra a tuberculose. Essas três foram testadas em cepas isoladas e resistentes a medicamentos utilizados. E os resultados foram positivos. Duas delas passaram no teste de toxicidade”, ressalta a professora.

Isso quer dizer que, a despeito do reconhecimento e da divulgação científica em curto prazo, num longo período é possível que alguma indústria farmacêutica se interesse em produzir algum medicamento em larga escala. “Com os resultados que obtivemos, a gente vislumbra um cenário que podemos ter obtido um medicamento capaz de combater essa enfermidade”, afirma Vanessa.

Tempo e recursos

Em média, o processo de produção de um fármaco pode levar 14 anos ou mais e, durante esse período, passa por ao menos quatro etapas muito rigorosas, dede a pesquisa até os testes clínicos. “Nesse processo estão envolvidos vários agentes como governo, universidades, laboratórios, agências regulatórias e a realização de testes em cobaias animais ou humanas. Ainda estamos na pesquisa básica, mas estamos bem avançados. Já temos testes em cepas resistentes, ensaios de toxidade e divulgação dos resultados científicos.”

A premiação recebida contempla um espaço para publicação gratuita na revista inglesa de divulgação científica PeerJ Life & Environment, além de uma entrevista para a versão online sobre o trabalho desenvolvido no SupraSelen. Entretanto, se por um lado a pesquisa já ganhou reconhecimento e incentivo internacional, por outro aqui no Brasil sofre com a falta de recursos.

“A gente depende de recursos públicos, que no momento estão escassos ou zerados. E aí fica difícil avançarmos para outras fases, que já seria a fase de testes em animais”, avalia Vanessa.

Sem recursos de editais públicos, Vanessa sente que o esforço dela e de toda a equipe está ameaçado. “Apesar do otimismo que eu tenho, não posso deixar de dizer que tudo o que a gente vem fazendo parece que não é prioridade para o governo brasileiro. Nossa pesquisa e o meu trabalho foram reconhecidos com mais calor na Europa, não aqui no Brasil”, aponta. A professora conta que semanalmente tira dinheiro do próprio bolso para comprar produtos para o laboratório. “Não temos apoio de quem deveria nos dar sustentação.”

O prêmio, de acordo com Vanessa, é uma injeção de ânimo. “Mas não paga as contas do laboratório. Isso não é o suficiente.” A aluna Pâmella da Silva Cordeiro, que trabalha no laboratório há alguns anos, também acredita que o resultado é impressionante em comparação com os recursos disponíveis. “No meio de um cenário de corte financeiro relacionado à pesquisa, o prêmio traz ânimo para continuarmos nosso trabalho mesmo em tempos difíceis. O grupo consegue excelentes resultados porque somos unidos e focados no objetivo de utilizar a ciência em benefício da sociedade”, comemora.

Fonte: Gazeta do Povo

Sobre admin

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Required fields are marked *

*

× Fale com os gestores