quinta-feira , 25 abril 2024
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Câncer de tireoide: não operar pode ser uma opção

Estudos mostraram que em alguns casos o microcarcinoma de tireoide pode ser simplesmente acompanhado.

Microcarcinoma de tireoide é o nome utilizado quando nos referimos aos tumores de tireoide com tamanho inferior a 1 centímetro.  “A glândula tireoidiana está localizada na região anterior do pescoço, logo abaixo do pomo de Adão” ressalta a Dra. Rosália Padovani, endocrinologista. Ela produz os hormônios T3 e T4 e estes, por sua vez, regulam o funcionamento de todo o nosso organismo.

Nas últimas décadas a incidência de um tipo específico de tumor de tireoide, o chamado microcarcinoma papilífero de tireoide (MPCT), tem aumentado significativamente.

Os especialistas acreditam que isso pode estar acontecendo por causa do aumento na solicitação de exames de imagem, o ultrassom de tireoide, por exemplo, e da punção aspirativa com agulha fina (PAAF), também conhecida como biopsia aspirativa (usada para retirar um pouquinho de material de dentro do nódulo tireoidiano suspeito para que ele seja posteriormente analisado).

Entretanto, “como esse tipo de tumor costuma se desenvolver lentamente e a cirurgia pode oferecer riscos consideráveis ao paciente, os médicos pesquisadores começaram a questionar se o tratamento cirúrgico, para estes casos em específico, deveria ser sempre a melhor opção” ressalta a endocrinologista.

Por isso, alguns estudos foram realizados para comparar a evolução de pacientes com microcarcinomas de tireoide que tinham sido submetidos à cirurgia e outros que estavam sendo apenas acompanhados de perto pelos especialistas.

Um deles foi liderado pelo médico Akira Miyauchi, presidente do Kuma Hospital (um centro de excelência no tratamento da tireoide, localizado na cidade de Kobe, no Japão).

Alguns critérios foram utilizados como de exclusão: pacientes com metástase nos gânglios linfáticos ou à distância ou com o tumor apresentando extravasamento da tireoide ou que se localizavam próximos à traqueia ou ao nervo laríngeo recorrente , que é essencial para a fala. Esses pacientes, classificados como de maior risco foram encaminhados diretamente para cirurgia.

Para os demais pacientes foram propostas duas opções: cirurgia ou observação clínica com ultrassonografia de tireoide e região cervical a cada 6 meses durante um período e depois anualmente. Durante o acompanhamento, a cirurgia era indicada caso houvesse crescimento de 3 mm ou mais do tumor em acompanhamento ou se surgisse metástase nos linfonodos do pescoço.

Em 10 anos de pesquisa, dos 1235 pacientes não operados inicialmente somente 8% dos pacientes apresentaram crescimento do tumor ≥ 3 mm e 3,8% apresentaram metástase linfonodal. Nenhum paciente desenvolveu tumor fora da tireoide ou metástase à distância ou foi a óbito pela doença.

Os pacientes que apresentaram evolução do quadro, foram encaminhados para cirurgia, mas nenhum dos indivíduos operados posteriormente evoluíram bem.

Na mesma linha, Iwao Sugitani, endocrinologista cirurgião da Universidade de Tóquio, também no Japão, junto com uma equipe de especialistas observou que casos de microcarcinoma de tireoide de baixo risco apresentam resultados semelhantes.

Com base em trabalhos como esses, o guideline da American Thyroid Association (ATA) e o consenso europeu (European Thyroid Cancer Taskforce) passaram a não recomendar mais a punção aspirativa com agulha fina para a maioria dos nódulos menores de 1 cm, mesmo se suspeitos para malignidade.

As exceções ficaram para nódulos que apresentam extravasamento para fora da glândula tireoidiana ou metástase nos linfonodos ou para aqueles localizados no istmo da Tireoide (istmo é a região da Tireoide que separa o lobo direito do lobo esquerdo).

O grande objetivo desta recomendação é evitar tratamentos excessivos e desnecessários para este tipo de problema. Assim, a cirurgia, pelo menos em um primeiro momento, deixou de ser a única opção de tratamento para determinados tumores de tireoide.

“Desta maneira, o paciente pode optar juntamente com o seu médico a apenas fazer o acompanhamento dos pequenos tumores. E em caso de evolução do quadro, tendo a cirurgia como opção sem ter prejuízos por ter optado por esta escolha” explica Dra. Rosália.

“A única ressalva nesse caso é que a equipe que se proponha a acompanhar o indivíduo esteja treinada e preparada de fato para isso” salienta a especialista. Também é essencial que a equipe disponha de equipamentos de boa qualidade para a realização dos exames, em especial o ultrassom.

Os pacientes, por sua vez, devem estar de acordo com todo o processo e devem ser complacentes com ele, entendendo que uma eventual intervenção cirúrgica pode ser necessária a qualquer momento, sem trazer maiores repercussões.

DRA. ROSÁLIA PADOVANI

A Dra. Rosália é doutora em Endocrinologia e Metabologia pela UNIFESP. Realizou treinamento médico no exterior, no  Memorial Sloan Kettering Cancer Center (MSKCC), em Nova York. Foi graduada pela Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e fez a residência de Endocrinologia na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ISCM-SP). Obteve o título de especialista em Endocrinologia e Metabologia pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) em 2004.

Atualmente, é médica assistente da disciplina de endocrinologia e metabologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ISCM-SP), onde atua na área de câncer de tireoide, desenvolvendo pesquisas com ênfase no diagnóstico, tratamento e seguimento dos pacientes com essa neoplasia. É também médica responsável pelo tratamento com radioiodoterapia no setor de medicina nuclear (Nuclimagem) do mesmo serviço.

Site: www.rosaliapadovani.com.br

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