sexta-feira , 29 março 2024
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Covid: uso medicinal da Cannabis pode reduzir impacto e sequelas

Segundo o médico psiquiatra e colunista do Sechat, Wilson Lessa, os canabinoides são capazes de diminuir, in vitro e in vivo, em até 70% a entrada do SARS-Cov-2 – o coronavírus – nas células humanas, uma vez que agem em receptores

Com o aparecimento do novo coronavírus, pesquisadores de todo o mundo passaram a conduzir estudos sobre como conter a doença e desenvolver possíveis tratamentos para a Covid. Pesquisas sobre os benefícios do uso medicinal da Cannabis para a Covid ganharam destaque após uma série de ensaios que demonstram o potencial da planta para a doença que está causando uma crise sanitária sanitária mundial.

O psiquiatra Wilson Lessa, que é professor da Faculdade de Medicina da UFRR (Universidade Federal de Roraima) e colunista do Sechat, conversou com o Sechat sobre a relação entre cannabis medicinal e combate ao coronavírus. Segundo ele, os canabinoides são capazes de diminuir, in vitro e in vivo, em até 70% a entrada do SARS-Cov-2 – o coronavírus – nas células humanas, uma vez que agem em receptores.

Um dos principais receptores é a ACE2, enzima receptora expressa no tecido pulmonar e na mucosa oral e nasal que o vírus usa para entrar em um hospedeiro humano. Uma vez enfraquecida a ACE2 pelos canabinoides, a entrada do vírus é dificultada. “Além disso, sua ação imunomoduladora (dos canabinoides), ao mesmo tempo que reforça Linfócitos-T, que são células de defesa, diminui significativamente a ocorrência da tempestade de citocinas, por modulação destas”, afirma.

Para o médico, o ponto mais importante do uso dos canabinoides é a segurança. “Uma vez que não temos nada aprovado para a fase inicial da Covid, acaba entrando na autonomia do médico e do paciente, como uso compassivo. É importante conversar claramente com o paciente sobre isso”. Isso acontece uma vez que a grande maioria das pesquisas são voltadas ao uso dos canabinoides em fases mais avançadas da doença, como quando a tempestade de citocinas ocorre, deixando uma lacuna sobre o uso da cannabis medicinal nos primeiros estágios da Covid.

Pesquisa canadense avançou para estudos clínicos 

Por conta dos muitos benefícios à saúde que a cannabis possui já comprovados anteriormente, vários estudos foram realizados desde o início da pandemia a fim de relacionar o uso da planta como um possível tratamento para a Covid. Um dos principais e primeiros estudos foi realizado na Universidade de Lethbridge, no Canadá, no primeiro semestre de 2020. Em parceria com a Pathway RX, empresa focada em pesquisa com cannabis, o estudo concluiu que extratos específicos da planta mostram uma promessa como um tratamento adicional para Covid.

Como resultado, dados iniciais sugerem que 13 extratos de cannabis com alto teor de CBD anti-inflamatório podem modular a expressão de ACE2 em tecidos-alvo da Covid. Além disso, podem regular negativamente a enzima TMPRSS2, que também auxilia a entrada do vírus no corpo.

Depois de oito meses da publicação do estudo, em fevereiro de 2021, ele avançou para a fase de estudo clínico, fruto de uma parceria com a Good Pharmaceutical Development Company, com sede nos Estados Unidos. “O estudo clínico está em andamento, mas em fase de conclusão e estamos realmente esperançosos”, disse Olga Kovalchuk, uma das autoras do estudo.

Para Wilson Lessa, ainda há muito o que ser pesquisado, mas os estudos com a cannabis medicinal dão luz a um caminho esperançoso. “Penso que os canabinoides têm um papel muito importante, não para evitar a doença, mas para diminuir seu impacto biopsicológico e auxiliar nas sequelas pós-Covid.”

Conheça outros estudos que demonstram o benefício dos canabinoides para a Covid

Beilinson Hospital (Israel)

Segundo descobertas iniciais declaradas em uma nota do Beilinson Hospital em Petach Tikvah (Israel), o CBD “tem um impacto positivo em uma série de marcadores inflamatórios que ocorrem em pacientes com coronavírus.”

A maioria dos pacientes com Covid gravemente enfermos que receberam CBD (Canabidiol) para acalmar a inflamação receberam alta do hospital em menos de um mês, conforme mostra o teste conduzido recentemente pelo hospital israelense. Dos 11 pacientes no estudo, oito tiveram alta do hospital de 7 a 30 dias, embora os outros três participantes morreram de complicações do Covid.

Este estudo teve como objetivo, sobretudo, testar a eficácia e segurança do CBD na redução do processo inflamatório da tempestade de citocinas. O fato dos canabinoides conseguirem modular as respostas imunológicas do corpo por meio de sua interação com o sistema endocanabinoide faz com que o CBD se torne um potencial auxiliador da diminuição da inflamação pulmonar causada pela doença.

Aging-US (Albany, Nova Iorque)

O estudo publicado “Em busca de estratégias preventivas: novos extratos de Cannabis sativa com alto teor de CBD modulam a expressão de ACE2 em tecidos de entrada de Covid”, publicado pela revista científica Aging-US (Albany/Nova Iorque), concluiu que extratos de cannabis com alto teor de canabidiol (CBD), podem alterar expressão gênica e inflamação geradas pela Covid.

Os pesquisadores da Aging-US trabalharam sob uma licença da agência governamental Health Canada, desenvolvendo mais de 800 cultivares de cannabis e traçando hipóteses de como o CBD pode diminuir a expressão de ACE2 em tecidos alvo do da Covid. A ACE2 é uma enzima receptora expressa no tecido pulmonar e na mucosa oral e nasal que o SARS-CoV-2 usa para entrar em um hospedeiro humano. Uma vez que a enzima é reduzida – e isso pode acontecer quando em contato com o CBD -, a chance de infecção pelo vírus também diminui.

STERO Biotechs (Israel)

Se um paciente com um caso grave de Covid desenvolver uma tempestade de citocinas, a função imunossupressora dos canabinoides pode ser usada para combater seus efeitos prejudiciais, muitas vezes fatais. “Avaliar a segurança e eficácia de canabinoides isolados ou da Cannabis em geral, em vários estágios da infecção por Covid em ambientes clínicos, é fundamental”, avaliaram os pesquisadores da STERO Biotechs.

Mas, como as citocinas desempenham um papel crucial no combate às infecções, reduzi-las como medida preventiva ou nos estágios iniciais da infecção pode ser uma má ideia. Muitas autoridades alertam contra o uso de agentes de cannabis nos estágios iniciais da infecção. Isso porque a cannabis e canabinoides específicos como o CBD e o THC suprimem as respostas imunológicas.

Medical College of Georgia (Estados Unidos)

Logo no início da pandemia, cientistas do Dental College of Georgia (DCG) e do Medical College of Georgia, demonstraram que o CBD tem a capacidade de melhorar os níveis de oxigênio e reduzir a inflamação e os danos físicos aos pulmões relacionados à síndrome do desconforto respiratório do adulto (SDRA).

Contudo, este estudo também mostrou os mecanismos por trás desses resultados, evidenciando que o CBD normaliza os níveis de um peptídeo chamado apelina, que é conhecido por reduzir a inflamação. Os níveis deste peptídeo são baixos durante uma infecção por covid. Além disso, a cannabis medicinal pode ter efeitos positivos em alguns sintomas da doença, como dor de cabeça, problemas respiratórios e gástricos.

Além disso, extratos de cannabis de plantas inteiras também mostraram reduzir a coagulação do sangue em modelos animais; sabe-se que muitos dos efeitos sistêmicos negativos da covid parecem estar relacionados à alteração da coagulação, portanto, é possível que a cannabis possa ser útil no manejo dessas sequelas.

Fonte: Sechat

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