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Cérebros que ficam, riqueza que vem: a inovação como pilar da independência nacional
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Cérebros que ficam, riqueza que vem: a inovação como pilar da independência nacional

Por Dr. Deivis O. Guimarães*

Este artigo opinativo propõe uma reflexão crítica e fundamentada sobre o papel da biotecnologia e da inovação científica na construção da soberania nacional. A partir de dados atualizados e comparações com países como Índia, China, Israel, Estados Unidos e nações da União Europeia, analisamos como o Brasil tem tratado sua produção científica, especialmente nas áreas estratégicas de saúde, neurociência e biotecnologia. O texto discute o impacto econômico da fuga de cérebros, as perdas em propriedade intelectual e o desperdício de potencial tecnológico quando talentos nacionais são forçados a buscar reconhecimento no exterior. Também trazemos o exemplo concreto da GOn1 Biotech, startup brasileira de biotecnologia que, mesmo diante de múltiplas propostas internacionais, decidiu permanecer no país, demonstrando que a ciência feita aqui pode, sim, transformar o mundo. Mais do que uma análise setorial, este é um chamado à valorização da inovação como estratégia de Estado e base real para o desenvolvimento econômico sustentável.

O Valor Estratégico da Biotecnologia

Durante décadas, países em desenvolvimento enfrentaram o dilema da fuga de cérebros: pesquisadores, inventores, médicos, engenheiros e profissionais altamente qualificados que, diante da escassez de apoio local, optaram por seguir carreira no exterior. Essa migração silenciosa representa um dos maiores vazamentos de riqueza intelectual, social e econômica que um país pode sofrer.

No século XXI, em um mundo impulsionado por tecnologia, inteligência artificial e saúde personalizada, reter cérebros é sinônimo de proteger soberania nacional. Países que transformaram o investimento em ciência em políticas de Estado colhem os frutos em forma de PIB elevado, protagonismo internacional e bem-estar social.

Segundo relatório da McKinsey & Company (2020), o impacto potencial da biotecnologia pode atingir até US$ 4 trilhões por ano nas próximas duas décadas, com aplicações em saúde, alimentação, energia e meio ambiente. Não por acaso, países como Estados Unidos, China, Israel e Coreia do Sul consolidaram-se como potências globais ao colocar a ciência como ativo econômico.

A Ciência que Gera PIB

Investir em pesquisa, desenvolvimento e inovação (P&D&I) é mais do que valorizar o saber: é adotar uma estratégia de longo prazo para gerar empregos de qualidade, atrair capital estrangeiro e desenvolver tecnologias próprias.

A National Science Foundation (2022) aponta que cada dólar investido em pesquisa básica retorna até US$ 8 à economia no longo prazo. Além disso, 70% do crescimento das economias avançadas entre 1995 e 2020, segundo a OCDE (2023), veio da inovação tecnológica.

No entanto, o Brasil ainda investe apenas 1,3% do PIB em P&D, contra 4,5% da Coreia do Sul e 3,2% da Alemanha. Apesar disso, o país abriga mentes brilhantes que, mesmo diante de um cenário de baixo incentivo, burocracia e instabilidade fiscal, seguem desenvolvendo soluções de alto impacto global — como é o caso da GOn1 Biotech.

GOn1 Biotech: Ciência que Gera Impacto e Inspira Resistência

Fundada por um pesquisador brasileiro com trajetória internacional, a GOn1 Biotech é hoje referência em biotecnologia com nanotecnologia aplicada à saúde neurológica. A empresa desenvolveu o Cerenovex, um probiótico neuroprotetor para Parkinson e Alzheimer, validado cientificamente e hoje comercializado exclusivamente nos Estados Unidos, após a venda dos direitos de exploração comercial para um fundo de investimento português — um caso raro de transferência de tecnologia desenvolvida no Brasil com reconhecimento global.

Mais recentemente, a empresa deu um passo ainda mais audacioso com a validação do ProbMax, o primeiro mix probiótico polivitamínico com nanotecnologia do mundo voltado para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Os estudos clínicos demonstraram benefícios significativos no comportamento, sociabilidade, resposta gastrointestinal e marcadores inflamatórios — tudo com baixo índice de efeitos adversos.

Com essa conquista, a GOn1 passou a receber ofertas para transferir sua sede para países do Golfo, Europa e América do Norte, com isenções fiscais, cidadania acelerada e acesso a fundos de venture capital. No entanto, a empresa recusou todas as propostas. O motivo? Patriotismo e compromisso com a ciência nacional.

Hoje reconhecida como a 29ª startup unicórnio do Brasil, a GOn1 mantém sua sede no Espírito Santo, em um esforço para consolidar o Brasil como polo exportador de biotecnologia de ponta. O slogan que move sua equipe resume essa missão: do Brasil para o mundo.

A Fuga de Cérebros como Perda de Riqueza e Soberania

A chamada fuga de cérebros não é apenas um problema acadêmico: é uma ameaça econômica e geopolítica. A cada cientista que deixa o Brasil por falta de condições, perde-se propriedade intelectual, inovação e competitividade. Segundo o CNPq (2023), mais de 15.000 doutores brasileiros residem hoje no exterior, muitos atuando em áreas estratégicas como IA, bioinformática e neurociência.

Em 2022, só o Reino Unido e os EUA naturalizaram mais de 2.000 profissionais da saúde formados no Brasil, que hoje produzem conhecimento de alto valor agregado em universidades como Harvard, Oxford e Stanford. O Banco Mundial calcula que os países em desenvolvimento perdem mais de US$ 60 bilhões por ano com essa migração de talentos.

No Brasil, onde políticas públicas de ciência são muitas vezes descontinuadas, os efeitos da desvalorização da economia do conhecimento são ainda mais graves.

Quando Inovar em Casa Faz a Diferença

Países que conseguiram reverter a fuga de cérebros viram seu PIB tecnológico crescer vertiginosamente. A Índia, ao criar hubs como Bangalore, movimenta mais de US$ 120 bilhões em serviços tecnológicos por ano. A China, com programas como o Thousand Talents Plan, repatriou mais de 6.000 cientistas em uma década, impulsionando sua liderança em publicações científicas e patentes globais.

Israel, com menos de 10 milhões de habitantes, tem mais de 1.600 startups de biotecnologia, muitas fundadas por talentos formados em seu serviço militar técnico. A exportação de inovação em saúde já responde por mais de 10% do PIB israelense.

O Brasil tem a biodiversidade mais rica do planeta, pesquisadores qualificados e um mercado de saúde em expansão. O que falta é visão estratégica e continuidade nas políticas de incentivo, algo que o exemplo da GOn1 Biotech mostra ser possível mesmo em meio a adversidades.

Ciência como Ativo de Soberania Nacional

Investir em ciência é investir em autonomia, segurança e futuro. As nações que lideram o mundo hoje não o fazem apenas por seu arsenal econômico ou militar, mas porque dominam as tecnologias que moldam o presente e o futuro.

A biotecnologia, especialmente aplicada à saúde, é uma das maiores oportunidades para países como o Brasil deixarem de ser importadores de soluções e passarem a ser exportadores de conhecimento e bem-estar.

O exemplo da GOn1 Biotech prova que é possível. Mas é urgente que mais empresas, universidades e governos entendam que reter cérebros é reter poder, e que cada inovação que nasce em solo nacional é um passo a mais na direção de uma verdadeira independência civilizatória.

Referências Bibliográficas

MCKINSEY & COMPANY. The Bio Revolution: Innovations transforming economies, societies, and our lives. 2020.
OCDE. Main Science and Technology Indicators. OECD Publishing, 2023.
NATIONAL SCIENCE FOUNDATION. Returns on Investment in Scientific Research. Washington, 2022.
WORLD BANK. Migration and Brain Drain in Developing Countries. 2021.
CNPq. Indicadores de Pesquisadores Brasileiros no Exterior. Brasília, 2023.
WIPO. World Intellectual Property Indicators. Genebra, 2023.
Nature Biotechnology. The Rise of Biotech Unicorns in Emerging Economies. 2023.
Israeli Innovation Authority. Annual Innovation Report. Tel Aviv, 2022.
Chinese Academy of Sciences. Talent Repurchase and Technological Growth in China.
2022.

*Pesquisador e Diretor de pesquisa da Gon1 Biotech
Doutor Honoris Causa em Biotecnologia aplicada em saúde
Doutorando em gestão e tecnologia industrial: desenvolvimento de novos produtos

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